20 e tantos

“Você está linda com esse cabelo” foi a frase que salvou meu dia.

Há 2 meses, descobri uma queda de cabelo que me tirou o sono. Primeiro porque a genética não me deu nenhuma fartura e segundo porque eu já sabia o motivo dela. Remédio, creme, dermatologista, exames, shampoo antiqueda, dermatologista de novo, receita, remédios manipulados e mais cremes. No corredor do consultório médico, eu via os meus exames nas mãos e refletia sobre o quanto eu era culpada nisso.

Sim, o ritmo de trabalho já foi pior, mas eu tinha 20 e poucos. Agora, com 20 e tantos, o corpo não é mais o mesmo.

Entrei no carro com o rádio desligado e lembrei das pequenas rugas que eu vi aparecer outro dia, do cansaço anormal nas noites de sábado e de outras coisas que gritavam: “Allyne, você está envelhecendo”. E longe de fazer previsões exageradas e desesperadoras sobre os meus 28/29 anos, eu apenas pensei nos meus hábitos e na minha forma de lidar com essas “mudanças”. E foi quando eu decidi parar de ignorá-las.

Cheguei em casa e ouvi a frase que salvou o dia. Era a certeza de que todo esse conflito era meu e que a escolha de chegar aos 30 com saúde não poderia vir de ninguém mais.

Um cara chamado Victor

Um começo é sempre um começo.

O fato de termos o mesmo sangue nunca nos aproximou em 15 anos. Confiamos no tempo e aguardamos pelo dia em que não seria difícil, nem trágico, o (re)encontro. Há 1 ano foi o primeiro telefonema e ontem o primeiro aniversário comemorado junto. 1 ano de conversas tímidas, abraços sem jeito e sorrisos comedidos, como uma amizade que tem tudo para acontecer, mas sem chances de errar.

“Assopre a vela e faça um pedido, Victor”.

E enquanto a sua timidez soltava um assopro torto e desajeitado diante dos olhares da sua “nova” família, era eu que respirava fundo, tentando entender o quanto aquilo significava. Do pouco que sei sobre a sua vida, suas alegrias, medos, músicas e gostos, o que eu soube na noite de ontem é que tem uma história começando a ser escrita. Uma história de irmãos que demorou, mas já existe e não pode mais ser apagada.